Traição, renúncia, jogos mentais e tragicomédia são o tabuleiro onde as personagens de Moisés Neto movimentam-se ou, melhor dizendo, debatem-se. As influencias vão de Sartre, Shakespeare, Antonin Artaud, Beckett, Ionesco, Nelson Rodrigues, Plinio Marcos, até o trash das telenovelas e de certas produções hollywoodianas. A inversão, a perversão, a dialética, a falta de pudor, o pavor do sentimentalismo e a ironia são os ingredientes que quase invariavelmente levam os humilhados (ofendidos) a comportarem-se como verdadeiros sadomasoquistas, enquanto os algozes (ofensores) são expostos como fracos, já que sua característica comum é a constante negação dos próprios desejos. No fim das contas, a inversão do jogo é praticamente inevitável.

É uma corrente dramatúrgica que não se rende ao sucesso fácil. Comédia e tragédia misturam-se e confundem-se constantemente. O riso é tenso e o drama, ridículo. Porém, ao contrário da noção expressionista (amplamente aplicada por Nelson Rodrigues, um dos ídolos de Moisés) de que, ao soltar suas feras (demônios interiores), o homem precipita-se na desgraça, a obra de Moisés Neto afirma que a felicidade, por mais imperfeita e custosa que seja, só é possível quando o homem pára de remar contra a maré e aceita incondicionalmente esses demônios como parte de sua realidade, libertando-se da culpa que o persegue por todo o texto. Quando isso não acontece, aí sim, o homem desintegra-se.

Esta característica - na verdade, quase uma regra - está presente mesmo em seus dois textos infantis, como "Draculin" e "A Maior Bagunça de Todos Os Tempos" e também em sua escolha de textos clássicos para adaptação livre, como "Hamlet" de Shakespeare e "Fausto" de Goethe.