poeManifesto
Tanta gentileza de sua parte lírica,
quanta rudeza de meus, nossos
a-tentados tentadores tentáculos...
Com muita simpatia.
Devemos assumir as contradições de cada dia
Com muita simpatia
Ninguém mais quase faz
Meio rebelde... mais acidental... visceral.
Assombrado pelo espectro político
que me acompanha desde sempre
(paranóia sublimada)
e que não pode ser ignorado.
Com muita simpatia
minhas posições continuam radicais.
Minha coragem é questão de dialética
Com teorias pouco dogmáticas,
sedimento logo
abro portas da consciência
não aceitando o inconsciente?
instantaneamente consciência.
Intencionalidade!
E não é uma questão intelectual, esta agora
(qual? Quando? Por quem?)
é mais ampla,
Não pega só a inteligência.
Pega também as emoções, sentimentos.
Tudo em mim (egolatria?) é mais ou menos intencional:
intencionalidade radicalizada.
Tão radicalmente intencional
que se não existisse o intencionado,
eu não seria / teria nada, nada de consciência ou sereia do nonada?
(Haja retórica poética? Pop- filosofia do nadismo?)
Nadando no na-dadaísmo das distâncias
No infernolento sartriano
É por isso que radicalizo a intencionalidade:
O fundamento do homem é o Nada?
O Nada não é nenhum mistério.
O Nada é a distância do sujeito.
Eu sou
Definitivamente
separado
de tudo que me cerca
de tudo.
Com muita simpatia
Só tenho consciência da consciência...
Ela me impede de me identificar com as coisas.
Eu estou separado do Outro.
E essa separação
é justamente
o Nada.
Com muita simpatia
Eu sou sempre meio duplo,
isso vem da coisa que o irracional não tem:
A consciência.
Ela: em primeiro lugar.
Depois vem a dicotomia: sujeito-objeto.
E na intimidade da dicotomia
sujeito
objeto
está instalado o Nada.
Hino ao nada!
Elegia do nada inaugural!
Com muita simpatia
Entre eu & você:
um tende a ser mais sujeito
e outro
mais objeto.
Sempre.
Com muita simpatia
chego a dizer que nossa relação é sadomasoquista
o que não quer dizer
patológica, necessariamente
mas tem um grau de sadomasoquismo
porque não dá para fugir
dessa desigualdade.
O sadomasoquismo como intersubjetividade.
Ode às Re-velações.
Com muita simpatia.
O amor? Não existe.
É ilusão.
Não é que não exista
mas não tem estabilidade
tem que ser conquistado a cada momento.
Procurar sacramentar o amor
institucionalizar o amor no casamento
na família
isso tudo parece falso.
Só o ato de responsabilidade absoluta
nesse instante faz-se fundamental
temos pavor do determinismo...
Eles
(Quem? Os Pais? Os Mestres? Os Imperadores?)
inventam o determinismo
para se proteger contra a liberdade
porque é difícil ser livre.
Ter a responsabilidade absoluta.
Viver não é uma coisa aleatória.
Temos que reinventar a responsabilidade
a cada ato cometido.
Com-prometido.
Quero des-hotdog-matizar
O importante é justamente a contradição.
Para se integrar ao processo
não se pode sair do processo
pois a totalidade sempre é gradativa.
A história
sendo feita
é uma tentativa enorme
Disforme
Demente
deprê
de humanização
Quanto ao PC (grande enigma do Nada?)
Seu programa impede a reinvenção.
A sociedade (abismos do tudo?)
Ela tenta cercear as liberdades do homem
sepultando o individual.
O nós ? É falsificador; é serialidade.
Tudo sempre é a mesma coisa
(Em qualquer retórica con-textual?)
não há possibilidade de escolha.
É a inércia através da repetição.
Serialidade.
O homem tende a ficar inerte
Se nega na sua condição de homem
A repetição mecaniza o homem
e a inércia o reduz à inação
Levantem
heróis do novo mundo!
(Outro Castro Alves em Rimbaud?)
Tomem consciência de que é cegada a hora...
Cega chegada!
LOBOS
No espaço entre os seus dentes
restos de almoço
vários lobos foram espalhados
quero te contar como foi:
eles foram soltos com a boca cheia de fome
todos os lobos, eles comeram meus olhos
Eu os vi chegar
dancei e cantei junto do fogo
vi febre nos olhos deles
nos olhos calmos que tinham.
E sabia deles, pois os pressenti sem direção
todos os lobos, eles comeram os meus olhos
atravessaram apressados os campos que
rodeavam minha casa
comeram meus frutos verdes
minhas flores na varanda
sonhos da juventude...
todos os lobos, eles comeram meus olhos
TARÂNTULA
em qualquer canto da casa existe uma tarântula...
com suas patas curvas, peludas e débeis
trêmulas de emoção e veneno
em qualquer canto o murmúrio dos ventos
quando se encontram num portal
atrás de um quadro
espargindo-se nos vidros...
em qualquer canto, há um Pégaso
que voa despreocupado em seu galope,
distraído /
na neblina do sonho de alguém
em qualquer canto da parede vê-se um pouco de alegria
que restou da última festa /
estilhaços repousam também,
n’algum lugar pelo chão...
ODE AO LIVRO
Luar solidificado, fogo congelado, dor que murmuro
Barcos em estranhos mares de vinho escuro
Que me fazem Deus no quarto e me crucificam na sala
Maravilhas e perigo: loucura breve
Com água de serpente ou com sangue se escreve
A teia de homens, truques da alma em animal e flor
Sonho da vida de sonho-monstro feito de olhos e dor
Paperback, pulp fiction, luxo: melodia que não posso traduzir
Que me leva de volta às fontes e ao porvir
Velho-moço aprendendo e errando
Corvo e pomba branca casando
Senti-lo sem lê-lo, tateá-lo penetrando-o
Buquê jogado no espaço, vento despetalando-o
Fantasma atravessando meu último recôndito
Cascavel celestial que me deixa atônito
Papel, tinta, luz na minha memória
Vários dias e noites numa só história
Que faz os vencedores se curvarem
Paraísos de leite e mel, secarem
Pavão perder suas cores, desnudando-se até a essência
Necessário pecado, nossa arrependida convivência
Tentativa e erro, retorno à pátria e desterro
Que me faz sombra e candeeiro
Sonho em claro labirinto-frio ou quente
Espelho temeroso, livre metáfora, inverdade
Alusão às inatingíveis estrelas no fim da tarde
Inrrompível cadeia (criação/ imitação)
On line ou na minha mão...