"Malditas Operárias do Riso"

por Moisés Neto

Com um humor que lembra o grupo inglês Monty Python, a mais nova ousadia da Trupe do Barulho chama-se “As Malditas”. Desta vez o texto não é de Henrique Celibi, que se “limitou” agora a criar cenário, figurino e a dirigir o espetáculo.

São apenas 3 atores: Flávio Luiz, Aurino Xavier e Paulo de Pontes.

O texto de Luís Navarro é um pretexto mais uma vez para um grupo que vem se firmando nos últimos doze anos pela capacidade de improviso e adaptando-se às mais rudes condições que são impostas àqueles que desejam se auto-produzir no estreito meio teatral que é a cena recifense.

A trama é básica: duas irmãs querem evitar que uma terceira se case. O texto é cheio de melodramaticidade, e esquartejado e temperado por Celibi enche-se de “cacos”(enxertos) que envolvem a platéia num mar de choques instantâneos. Ninguém sabe o que os atores são capazes de arrancar das linhas dramáticas propostas. Um andar, a maneira de cair. O entra e sai um cenário que é feito de sucata (da própria Trupe). Como era de se esperar no olho-no-olho com a platéia os 3 atores superam-se e tiram do nada um carnaval cinzento. Estranha esta cor do espetáculo: em vez das cores berrantes que marcaram as montagens anteriores, eles insistiram agora num tom lúgubre Um cenário mais trash do que nunca. Um texto que range, como diria Roland Barthes, que se sobrepõe e afeta a representação. Este texto, se me permitem a metáfora, é um sofá pequeno demais para o talento dos 3 atores, mesmo assim eles parecem vesti-lo com uma propriedade ímpar, e reescrevê-lo, junto com o encenador, a cada cena.

Difícil seria destacar qual dos atores chama mais a atenção se Paulo, com um figurino que o deixou esticado, ou Flávio, que incorpora algo como uma rainha do Maracatu, ou Aurino, na sua noiva meio vaca-profana. O que pressentimos nesta nova montagem é a vontade desses profissionais de romper até com os próprios padrões, como romperam com a hipocrisia recifense, e continuar sua cruzada em direção ao topo do showbusiness da Manguetown. Com sua linguagem rude eles fazem (e refazem) suas regras, dando sentido à vida na luta dos pontos-de-vista, sabendo que quem não o fizer, desaparecerá. Eis porque os considero soldados e não adianta agirmos como professores diante deles. Eles chegaram depois do incêndio da escola.

Malditos? Sim. Porém honestos e heróis da classe operária.




©2004 Moisés Neto. Todos os direitos reservados.