Elizabeth Taylor: inéditos no Brasil

por Henrique Amaral



Em 1977, publicaram no Brasil, uma nota de que o diretor/produtor israelense radicado nos Estados Unidos, Menahem Golan, estava à frente do projeto de um longa, chamado Abacarov, com Elizabeth Taylor no papel principal. Para o filho de Germano Haiut, Jaime, o termo israelense aba significa pai ou o Pai, mas a palavra completa não lhe diz nada. Não importa. O filme não foi feito.

Liz também não atuou em outra produção de Golam, O Embaixador (The Ambassador,1984), com Rock Hudson e Ellen Burstyn.

E tampouco esteve com Chazz Palminteri em Faithful, com Cher, e nem com Barbra Streisand, em The Mirror has Two Faces , em papel que coube a Lauren Bacall, premiada pela Academia. Muito menos fez Somewhere (uma continuação de “O Mágico de Oz”) ou Hollywood Sign, com Burt Reynolds.

Esse tipo de nota sai constantemente, através das agências de notícias, dos publicistas dos estúdios , de pessoas ligadas à indústria do entretenimento, e muitos mantém a nota como verdadeira e ela vai se cristalizando.

Com a Internet, as notas ganharam uma velocidade impressionante. A pressa na divulgação de notícias sobre filmes novos ou descobertas de filmes desconhecidos, faz com que as lojas da rede providenciem suas vendas antecipadas em vídeos e DVDs. Negociam títulos, imagens, astros.

O mercado antecipa filmes que nem sequer chegaram a entrar em produção e as filmografias dos atores, criadores e técnicos são modificadas proporcionando um interesse renovado, mas falso (no caso de Elizabeth, está lá na Internet, em várias páginas, o filme The Visit, com a data de 1999, e que nem sequer chegou a ser feito). Pode-se ver Liz, sim, em títulos novos, sim, disponíveis por aí, como em Elizabeth Taylor, a Musical Celebration (2000), Elizabeth Taylor: England’s Other Elizabeth (2000) e interpretando Beryl Mason, em These Old Broads (2001), ou quem sabe, comprar o DVD de Cleópatra (Cleopatra,1963) e assistir os documentários inéditos no Brasil, The Fourth Star of Cleopatra (1963) ou Cleopatra: The Film That Changed Hollywood (2001). Quando chegar ao Brasil, o DVD de Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun,1951), quem sabe venha, como no exterior, com o curta de 22 minutos, que Liz, Shelley Winters e George Stevens Jr., fizeram em 2001, chamado George Stevens and His Place in the Sun.

Pesquisando a carreira de Liz Taylor desde cedo, lendo sobre ela ou sobre outros atores ou diretores renomados, percebe-se a cobrança e a pressão do público, da mídia, dos estúdios, por um novo produto.


No caso de Liz Taylor, ocorre um caso que vem acontecendo há exatos sessenta anos, desde que a Metro a descobriu no filme de uma hora da Universal, There’s One Born Every Minute (inédito no Brasil), em 1942, e praticamente a lançou de novo como a simpática garotinha de A Força do Coração (Lassie Come Home), no ano seguinte. Foi trabalhando a sua imagem, dando ao público novas figurinhas para colecionar, curtas e agradáveis passagens por filmes como Evocação (The White Cliffs of Dover) e Jane Eyre, lançados ao longo de 1944, para exibir a obra-maior da atriz enquanto criança, no fim de dezembro de 1944, em Nova Iorque, no célebre A Mocidade é Assim (National Velvet), na verdade mostrado ao país todo apenas em 1945.

Pronto! Fama alcançada. Ótimo, temos a nova Judy Garland/Shirley Temple/Margaret O´Brien/alguma coisa assim.

Agora, os outros produtos paralelos ao evento-filme propriamente dito. E aí o interesse financeiro interessava tanto à poderosa Sara Taylor, mãe da atriz, quanto a Metro. A garota só tinha treze anos, seguia em frente, aceitando os convites.

A lista de eventos já começavam a aparecer, principalmente os mil e tantos convites para bailes de formatura, a foto dela no sabonete Luz também já estava ali.

É aqui, em 1945, que encontro o primeiro título desconhecido no Brasil (não estou me referindo apenas ao ineditismo, mas ao desconhecimento). É a sua participação no rádio, no programa Command Performance, promovido pelo Serviço de Rádio das Forças Armadas, ao lado de feras como Frank Sinatra, Roddy McDowall e Margaret O´Brien, e nas revistas, opinando sobre os animaizinhos adoráveis em publicações como “Calling All Girls”.

Paralelamente à carreira no cinema, e seguindo os passos de vários outros atores, escritores e até diretores famosos (como Cecil B. DeMille), Elizabeth Taylor passou a atuar no rádio. Antes da estréia de seu sexto filme, A Coragem de Lassie (Courage of Lassie), em 1946, ela participou da transmissão radiofônica da Campanha do Centavo, direto da Casa Branca, com a primeira-dama dos EUA, Bess Truman, e lançou seu primeiro livro, também ilustrado por ela, e também inédito no Brasil, Nibbles and Me, sobre seu hamster.

O filão das adaptações para o rádio dos sucessos do cinema fornecia 3 mil dólares para Liz em cada participação. E no dia 15 de abril de 1946, lá estava ela, no programa Screen Guild Theater , patrocinado por Lady Esther, ao lado de Lon McAllister e Walter Brennan, em Her First Beau, com a duração de meia hora, na Rádio CBS.

Esses programas eram gravados e até hoje podem ser adquiridos de colecionadores pela Internet. Algumas emissoras também apresentam esses programas, como a rádio WRVO, de Oswega, Estado de Nova Iorque, que programou alguns deles para maio, junho e julho de 2002.




Para encurtar, uma geral nos títulos dos rádio-teatros com Elizabeth Taylor, nos anos seguintes:

Programa Lux Radio Theatre – National Velvet (Rádio CBS, 3 de fevereiro de 1947).60 minutos. Com Liz, Mickey Rooney, Donald Crisp e Janice Scott. Obs.: Em 49, Roddy McDowall atuou em outra adaptação desse filme para o rádio, mas sem Liz.

Programa Lux Radio Theatre – Cynthia (CBS, 23 de junho de 1947). 60 minutos. Com George Murphy, Mary Astor, Elizabeth Taylor e Gil Stratton Jr (hoje, um comentarista esportivo na TV americana).

Programa Theater Guild on the Air (também conhecido como United States Steel Hour) – Kiss and Tell (Rádio ABC, 14 de setembro de 1947).60 minutos. Com Liz e Dick Van Patten.

Programa Campbell Playhouse – Morning Glory (CBS, 7 de abril de 1949). Com Liz, refazendo papel famoso de Katharine Hepburn no cinema.

Programa Campbell Playhouse – West of the Hill (CBS, 21 de setembro de 1950). Com Liz.

Programa Theater Guild on the Air (US Steel Hour) – Our Town (ABC, 12 de março de 1950). 60 minutos. Com Liz e Walter Huston. No cinema, foi sucesso de William Holden e Martha Scott, mas no teatro, é obra conhecida de Thornton Wilde (parece que o TAP já montou esse espetáculo).

Programa Cavalcade of America – I, Mary Peabody (NBC, patrocínio da Dupont, 21 de março de 1950).30 minutos. Com Liz e Susan Douglas (hoje, Susan Douglas Rubes).

Programa Theater Guild on the Air (US Steel Hour) – Father of the Bride (ABC, 25 de fevereiro de 1951). Com Spencer Tracy, Joan Bennett e Liz.



Essa lista não é definitiva. A pesquisa demanda tempo. Em outro artigo, continuo a lista de filmes de Liz e apresento mais uma relação interessantíssima de inéditos de Elizabeth Taylor no Brasil, especiais de TV, curtas, e uma análise de como – numa espécie de novela da vida real com a duração de 70 anos - a fotografia, o cinema, a literatura, a TV, o rádio e outros meios forneceram a cobertura completa da vida de uma pessoa.



Henrique Amaral é radialista, ator, diretor e dramaturgo. Suas últimas participações em eventos da cidade, foram: como ator/diretor em “Tributo a William Shakespeare” (Sala Alfredo de Oliveira, setembro de 2000), autor, em “José Ermírio de Moraes: Orgulho de Pernambuco” (Teatro Guararapes, dez/2000), ator, recitando seu poema “Guerra Santa” (Berrante Comedoria e Bebedoria, set/2001). Em 2002, escreveu dois pequenos textos teatrais para campanhas como a de racionalização de energia, este, intitulado “Energia Positiva” e a de controle do uso de armas, com o título de “Desarme-se Você Também”. Na TV, esteve no programa “Cinema 11”, interpretando cenas de “Cidadão Kane”, “De Repente No Último Verão” e “O Boca de Ouro” , em 1999, e no elenco de apoio do especial de Jorge de Souza “A Paixão de Francisco”. Aguarda o lançamento do vídeo “Fragmentos do Delírio Cotidiano” , de Edgar Arruda e Luca Barreto, em que atua no papel central e da finalização de “Tapacurá”, de Liz Donovan e Nélson Caldas Filho, em que faz figuração. De seu trabalho com Moisés Neto, destaca um vídeo que resume um pouco das emoções do grupo Ilusionistas: “Ilusionistas Rumo ao Terceiro Milênio” (1998), dirigido e editado pelo próprio Moisés.




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