...As HQs amadoras de Henrique Amaral (1967/1974) à luz de 2004

Henrique AmaralComponho música vinda do espaço, meu primeiro poema publicado foi em 1979, na coluna Mural do Estudante, de Clara Angélica, no Jornal do Commercio, tenho um cordel publicado em 1989 pela Prefeitura de Jaboatão, com a colaboração de Geraldo Melo Júnior, Celinha Varejão, George Gonzaga que me contaram a história do município, é muito bonito, eu acho.

Mas antes de tudo isso eu comecei a escrever em 1967, com uma historinha em quadrinhos chamada “Júlia”, uma espécie de heroína do bem contra o mal, essas coisas. Me apresentei também dançando o coco com a minha irmã em junho desse ano cantando um coco mais ou menos assim: “é coco, é coco, é coquinho/ é coco, é coco, é cocão/ dinheiro,mulé bonita, é ar beleza do mundo/ olha o coco, olha o coco...”.

E fui criando mil e uma HQs e meus irmãos também e os meus primos também. Em junho de 69, estreei como ator na escola, em “O Engraxate e a Princesa”. Era uma espécie de romance entre os dois. O texto era da diretora do colégio, Dona Ísis, e a minha partner era a filha dela, Isinha.

Mas as HQs continuaram mesmo. Vieram “Cala e Panfo” ( um casal diferente mas apaixonado, ele com uma tromba de elefante no lugar do nariz e ela com argolas enormes cobrindo as orelhas), “Mamu” (um senhor de idade que se casa com uma garota de 18 e a a família ficava pinel), “Zolta” (Tarzan de saias), “Jane”, “Kid Morgan & Daila”, e umas imitações das fotonovelas italianas [ época de Michela Roc, do policial Jacques Douglas (Luciano Franciolli), Katiuscia e tantos outros... saudades das fotonovelas, algumas eram bárbaras, ma-ra-VI-lho-sas). Essas imitações se chamaram “O Amor Renasce” e “A Gang dos Imaturos”. Também tinha a Beth que era nada mais nada menos que Liz Taylor, mas eu tinha vergonha de dizer que eu era fã da amiga de Lassie, da amiga de Jane Eyre que morre logo no início do filme, da amiguinha de Roddy McDowall em “Evocação” , da gatinha linda de “As Delícias da Vida”, da mocinha corajosa que vencia uma corrida de cavalos em “A Mocidade é Assim” (ou “A Mocidade é Assim Mesmo”/ National Velvet) e da atriz adulta do filme lindo que é “Adeus às Ilusões”, mesmo que o chamem de cafona, daquela mulher que todo dia saía no JB ou no Globo ou nas revistas Cruzeiro, Manchete, Realidade, nossa, deixa pra lá.

Em 90, os papéis...mais de cinqüenta desenhos...tudo amarelado, o papel se rasgando, mofado, comido. Ai, que trauma! Corri pra tentar salvar o que pude. Redesenhei alguns e salvei somente a história de outros. Mas, fiquei aliviado.

Mas meu desenho em 90 era péssimo.

Aí pedi a Carluca Bompastor que as redesenhasse com seu traço impecável, pensei em Clériston, mas nunca mais o VI. Carluca disse que eu mesmo devia redesenha-las, que eu tinha um estilo, alguma coisa no olhar dos personagens, um sentimento. Recusou-se, gentilmente, mas recusou-se. Isso foi em 1999, na Pithausen, onde interpretei Blanche Dubois em “Um Bonde Chamado Desejo”, no meu aniversário (30/11) com Pernalonga rindo pra se acabar de sua mesa. Aquela risada tão gostosa, tão saudosa, ai, Perna...(tem até uma musiquinha : Perna/ pra que te quero?/Perna/ pra que te quero, Perna?/ pra que te quero?...). Também entre 92 e 99, o que fiz ali naquela Pithausen, menino! Foi muita coisa! Nela e no Porção Mágica. Mas deixa pra lá.

Em 2004, Renato Specht, ex-dono do Metafísico Bar/Espaço Cultural Metafísico, pintor, ator, músico, cantor, promoveu três espetáculos da Ilusionistas em seu bar, e mais cerca de 75 esquetes, shows, peças curtas, exposições, o escambau, ele é um gênio e é humilde e muito bacana. Ele tem um desenho que a pintora e poeta Vera Regina de Moraes Machado considera naif. E ele redesenhou numa ótica muito particular dele, a primeira HQ. Então fiz uma ponte 1967/2004 e salvei um personagem. Vera Moraes também desenhou Kid Morgan e Daila e estou aguardando Hanois e devo enviar também para Arthur Dhalia, irmão de Heitor, que vão me redesenhar algumas histórias.
Eu mesmo redesenhei, voltei a ter o prazer de desenhar, fiz umas experiências, foi um fim de semana cheio de recordações.

Na mesma época, Luiz Eduardo Palumbo Cabral e Cláudio Palumbo Cabral descobriram meu e-mail no Le.Mangue de Ricardo Valença e me recontactaram. Moram no Rio e compomos em parceria várias canções entre 1976 e 1977 no Recife e Olinda. Eles eram filhos do comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros, que fica na divisa Recife/Olinda.

Voltando à escrita, em 69, escrevi a historinha “A Cortina” (Luci não quer que o marido substitua a cortina do banheiro velha por uma nova, porque ela é muito apegada àquela velha cortina, uma amiga do tempo do casamento deles) e aí pronto. Uma carrada de historinhas. Eu chamo assim porque eu não sabia termos técnicos literários. Se era um conto, se era uma novela. Aí vieram “Assassinato em São José do Rio Preto” (perdida), “Volta a São José do Rio Preto” (1972, tenho), e escrevi 500 páginas de “Esperança” (1973, mas queimei toda, rasguei o que sobrava, não me lembro porque).

Não posso me esquecer da fase de dançarino do corpo de baile do Shokky Som. Mil festas fizemos no Clube dos Mariscos (hoje, Naval), como os embalos de sábado à noite na marisco’s discothéque, ou no desfile da Ele e Ela Modas no Clube Português com a presença dos astros da TV, Lauro Corona e Glória Pires, na época, em “Dancin’n Days” já no finalzinho, em 79, me parece que a novela tinha começado em 78. E também no Internacional, no Sport Club.

Eu já tinha dançado em 76 na quadra da católica, o rock dos anos 60, com Marlene Viegas, como minha parceira. Vitória Leal era a diretora do Colégio de Aplicação Padre Abranches. Tive 4 namoradas num ano só, Lúcia, Eliane, Wedja e Claudinete. Gostei de todas.

Em 77, fui o pai da noiva no são João no são bento. Quando era pra dar um tapinha na cara da noiva, o ator, pei buf, veio de dentro. Foi um tapa tão forte que a menina ficou passada. Mas o espetáculo não podia parar.

De 78 a 82, tentei fazer Jornalismo na Católica mas fui jubilado. Pena pois perdi a oportunidade de fazer Parahuba Mulher Macho. Meu irmão fez. Trabalhei no NAI-CEAG (hoje SEBRAE) de 1979 a 1981, na revista Direção, com Ana Farache, Clériston, Juracy Andrade, David Hulak; na Secretaria de Indústria, Comércio e Minas do Estado de Pernambuco, estagiando na assessoria de imprensa, com Danielle Romani, fizemos poemas juntos, eu li seus poemas no terceiro “Programa Piloto” (tenho em casa). E uma experiência linda que não posso esquecer: fui redator, editor e etc no Departamento de Jornalismo da Rádio Jornal do Commercio. Eu escrevia o “Repórter Nacional”, o “Grande Jornal do Commercio no Ar”, o “Jornal do Commercio no Ar”, o “Atlantic Informa”, o “Boletim Eleitoral” (também locutor deste), um que se chamava O Diário da Noite alguma coisa, não lembro. E ajudava (ajudávamo-nos) Jorge Chau, Geraldo Silva, Adjeci Soares, Agnaldo Batista, Alcinda Beltrão, Jaime Sabino, Cláudio Medeiros, Nara Sales, Stella Saldanha, Brivaldo Franklin, Luciano Duarte, Pedro Silva, João de Deus, Ivan, foi tanta gente. Isso foi entre julho de 1982 e fevereiro de 1983.

Pra quem não sabe ainda, meu último espetáculo foi “Maria” interpretado e dirigido por Geninha da Rosa Borges, no “Tributo a Geninha da Rosa Borges”, neste ano, 2004, tendo no elenco do evento, Moisés Neto, Germano Haiut, Vanda Phaelante & Renato Phaelante, Silvana Marpoara e Tahiane Quesado. Mas é que depois de um certo tempo, eu parei de divulgar na imprensa tudo o que eu fazia, ou eu divulgava ou eu fazia. Num dava tempo. Então, a partir de 1994, eu fiz coisas muito mais pra as platéias dos bares, tenho provas, fotos, documentos, panfletos, depoimentos, do que pra me mostrar grande na imprensa, estrelinha da cultura pernambucana, num é por aí.

Em 2003, fiz o “Criador e Criaturas” sobre a obra de Moisés para o Quartas Literárias do Centro de Cultura Luiz Freire, lendo texto publicado no DP de Valdi Coutinho sobre o teatro feito por Moisés Neto e por mim; além disso, fiz umas performances nos bares, eventos como o “Boemia, Vídeo e Poesia” no Savoy. Fiz milhões de coisas no Savoy no ano 2000, depois em 2002, 2003 e esse ano ele fechou. Fui recitar, mas tive que recitar o meu mix de monólogo teatral com poema, chamado “Os Dilemas de Raimundo” na Nova portuguesa.

Em 2001, fiz a performance “Carlitos vai às Compras” e recitei o poema “Guerra santa?!” no show de Kayto, no Berrante (fechou esse bar lotadíssimo do Rosarinho), escrevi a biografia de Oscarito e outras coisas. Poucas.

É, acho que dá pra ter uma noção das coisas que uma criança pode fazer, um adulto
pode fazer, através desse meu depoimento/desabafo, carinhoso, com você que me lê e com a cultura brasileira em geral, e universal.

Estamos todos no mesmo barco, pois não?!

Henrique, Recife, 27 de julho de 2004.



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