LYA LUFT: dourando a pílula
                                       
por Moisés Neto

Em 2003, a gaúcha Lya Luft lançou o best seller Perdas & Ganhos (Ed. Record, RJ 156 páginas). Ela tem 65 anos e vem ganhando a vida falando sobre como viver bem respeitando a família e a si mesmo ao envelhecer. É autora de vários romances e estreou na ficção aos 41 anos com o romance As Parceiras (1980). Com formação em Letras e Mestrado em Literatura, já traduziu Virgínia Woolf, Thomas Mann e Gunter Grass.

Desde o início, ela procura manter o otimismo como tônica principal da sua brochura. Diz-se “um bicho de casa” e afirma que a vida é mais importante do que a literatura. Propõe ao seu leitor uma “conversa ao pé do ouvido” e espera com este livro trazer esperança, pois acredita que a felicidade é possível, que o amor é possível e que não existem só desencontro, traição, mas ternura, amizade, compaixão, ética e delicadeza.

Começa citando alguém chamado Hokusai (sécs. 18-19), que diz “quando eu tiver cento e dez anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo”.

O livro é dividido em quatro partes e uma quinta serve como conclusão.

O que é o livro: ensaio? Não, diz a autora: “dê o nome que quiser (...) estou buscando o tom certo”( p. 13-14).

São observações como “Somos tantas vezes fúteis e medíocres (...) poderíamos ser mais felizes” (p.15)

Ela usa a metalinguagem, busca no leitor um amigo e abusa das frases feitas. Fala das insuperáveis carências na infância que podem esburacar o chão da caminhada na vida de uma pessoa. Diz que o terror e êxtase da nossa existência começam antes de nascermos e como podemos evitar a deterioração na velhice: devemos “preservar a capacidade de sonhar”. Incentiva o consumismo mas diz que se amar é melhor. Reclama da falta de espaço para diálogo e clama “algo em nós é imutável” e que carregamos muito peso inútil e largamos coisas preciosas até “aquele fim temido” (p. 27).

São pérolas como “ter filhos e cria-los é cada dia gerar e pari-los outra vez, sem descanso.” (p.28) ou “No amor pensamos viver finalmente o mito da fusão com o outro. Queremos perder a identidade nas mãos daquele que de momento é tudo para nós” (p 83). Parece Bárbara Cartland?

O leitmotiv do livro é: O que pode haver de positivo em ficar velho? E a resposta não poderia ser outra: a gente ganha experiência.

São observações para lá de manjadas como “a opinião alheia entra em nossa casa e nossa consciência, limitando, podando", “quem vai destramar esses fios, onde começamos nós e termina a influência de tantos? (...) Auto-estima é o que me faz bem à mente (...) gosto de mim na medida em que acredito na minha dignidade. Afeto é o alimento mais importante desde o berço” (p. 32-35). Lair Ribeiro não diria melhor.

“Mereço uma dose de coisas positivas, vou lutar por isso (...) Uma personalidade é um jogo de armar” (p. 36-37). O livro segue neste ritmo até o fim com reflexões que parecem tiradas de velhos almanaques, de letras de música. É clichê em cima de clichê. Por exemplo: “Se você ama alguém, deixe-o livre”. Para rechear seu livro, ela não hesita em buscar trechos das suas obras anteriores.

É um livro de aforismos bem ao gosto de quem procura na literatura algum consolo para não ter lido bons autores antes.

O final é dramático: “O essencial não tem nome nem forma: é descoberta e assombro, glória ou danação de cada um.” (p 156). É colagem pura.

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Moisés Neto

Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED (Sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão em Pernambuco).


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