A História do Teatro
                                       
por Moisés Neto

Palestra realizada por Moisés Neto em 26 de Março de 2004 no Auditório do Colégio Americano Batista do Recife por ocasião das comemorações do dia do Teatro e do Circo (27/03).


Teatro é encenação, espetáculo, encontro rápido entre atores e platéia e sobram fotos, roupas quem sabe alguns objetos e... um texto.

Um espetáculo teatral é um ritual onde atores, diretor, produtor, cenógrafos, figurinistas e técnicos esperam aplausos ou mudança social.

O início deu-se em Atenas, Grécia VI a.C quando um homem chamado TÉSPIS ousou imitar os deuses e outros homens. Algo similar já fora feito na Índia, no Egito e em outros lugares milênios antes. Mas desta vez, vestindo uma túnica, usando uma máscara e sobre uma carroça, este ator apitou: “Eu sou Dioniso”. Era o nascimento do teatro. No século seguinte, a Grécia presenciaria o aperfeiçoamento desta arte. No ano 400 A.C, havia concursos para escolher os melhores autores teatrais (comédia, tragédia), turnês patrocinadas pelo governo e teatros com capacidade para milhares de espectadores. O povo queria distração.

Em vez da carroça, veio o palco fixo e escritores como Esquilo, Sófocles e Eurípedes que deram início a esta ilusão mágica chamada Teatro.

E tudo começou como uma homenagem ao deus do vinho e da paixão selvagem: DIONISO.

Se nos rituais a Dioniso (chamados Ditirambo) os gregos embriagavam-se e brincavam, agora permaneciam sóbrios na platéia para assistir às peças, em silêncio e assim purificar suas almas das paixões sufocantes. Pois o teatro, ao falar das emoções alucinantes ou doentias, ao inspirar piedade ou terror, nos liberta de tudo isso.

O teatro sempre fala aos sentimentos dos homens.

Nas tragédias gregas, vemos o herói em luta contra o seu destino e os deuses aparecem para recompensar a coragem e punir a rebeldia. Aí os autores se posicionam diante dos valores sociais.

Havia regras para se escrever peças teatrais na Grécia.

Se as tragédias estudavam o sublime, as comédias baixavam-se ao ridículo para denunciar a incompetência dos governantes, alertar contra os maus costumes ou denunciar aqueles que queriam corromper as instituições.

O teatro imitava a vida: uma trama expunha acontecimentos, havia um clímax e uma solução para o problema inicial. Os gregos sistematizaram essa história de herói (protagonista) e vilão (antagonista).

E tudo deveria acontecer no limite do possível, do verossímil (Eurípedes perdeu um concurso por colocar a sua Medéia fugindo no carro do sol no final da peça: imperdoável deus ex machina).

A coisa mais importante no teatro é a ação! E antigamente a música também auxiliava os espetáculos. O que os espectadores assistiam era a linguagem encenada e o texto escrito era literatura, por isso podemos ler estas obras escritas há 2.500 anos, mas o texto teatral não é para se ler e só “vive” no palco. No livro ele é um fantasma, mas foi assim que foram preservados.

O cenário, figurino, a luz, os gestos, a voz e tudo que faz o público vibrar, dão ao texto plenitude física e espiritual. O ato emociona o público, mas, como profissional, ele precisa estudar muito, ter técnica.

Quando os romanos entraram em contato com os gregos, ficaram encantados com o teatro deles e levaram para Roma esta arte: Plauto e Terêncio, nos anos 200 e 100 A.C, fizeram muito sucesso, mas as comédias eram as preferidas dos romanos: os disfarces, travestimentos, truques, obscenidades, cores e intrigas. Mesmo na decadência de Roma havia público para encher os teatros. Mas no século V D.C, a igreja proibiu as peças.

Vem a idade média e os espetáculos mais apimentados são confinados aos feudos (grades propriedades de ricos), aos castelos e se afastam do povão.

Nos castelos surgem poetas, cantores, músicos, dançarinos, dramaturgos, atores, palhaços, acrobatas, isso tudo muitas vezes recebia um nome só: MENESTREL. Durou até o século IX, quando os artistas foram procurar os pobres novamente e caíram na estrada, sendo até chamados de vagabundos!

A igreja os usou nas festas religiosas empeças chamadas “moralidades” onde personagens chamados “gula” e “luxúria”, por exemplo, surgiram fantasiados de demônios terríveis. Principalmente lá pelo ano 1000 quando se anunciava o fim do mundo.

Essas peças religiosas fizeram muito sucesso na Espanha nos século XII e XIII, eram os autos, que pregavam a salvação da alma. Encenavam-se inclusive dramas como “A PAIXÃO DE CRISTO”. Eram representados dentro ou no pátio das igrejas e depois em praça pública, o que atraía o povo mais pobre. Aí as peças eram montadas em cima de carroças, havia cenários e máquina para encenar os “milagres” e “aparições” dos santos e diabos.

Havia muito maniqueísmo. Mas veio a Renascença (os 1500) e os atores dependeram menos dos ricos e tiveram que buscar sustento de outro modo. Em Florença, Londres, Madri e Paris surgem as companhias regulares de teatro. Em Portugal e Espanha, alguns autores como Gil Vicente e Calderon de la Barca ainda insistiam com temas religiosos, no Brasil, José de Anchieta (1534-1597) escreveu peças mostrando as conseqüências da heresia e da maldade.

Já na Itália surge a commedia dell’arte, uma forma de teatro popular que rompe com os clássicos e apresenta personagens engraçados como o arlequim, que consolam mocinhas apaixonadas como a colombina, na base de improviso cômico.

Na Inglaterra, o teatro estava no auge e a rainha Elizabeth I dava a maior força a Shakespeare que escreveu tragédias, comédias e peças históricas. Havia vários teatros em Londres e todo dia quase tinha espetáculo. Só que mulher não podia trabalhar como atriz e na platéia tinha mais rico do que pobre.

Na França dos 1600 surge um grande autor teatral: Molière (1622-1673) que, com suas comédias, criticou a sociedade ao descrever impostores, falsos devotos e maus cristãos. Mostrou também como os pobres podiam ser vulgares.

Já em 1700, os franceses espalham a moda intelectual e discutem filosofia no teatro, afastando novamente o povo da platéia; nos 1800 surgem várias tendências na Europa: Principalmente a briga entre naturalistas e simbolistas. Era a época do Realismo social também e até na América do Norte surgem grandes dramaturgos na primeira metade do século XX: Eugene O´Neil, Tennessee Williams e outros.

Emerge na Europa a figura do Encenador, do diretor de teatro: na Alemanha, Bertold Brecht; da Rússia, vem Stanislavski.

Com a energia elétrica, o som e a luz ganham novas dimensões. O existencialismo discute as relações sociais do homem e prega a revolta. Já o teatro do absurdo diz que a vida não faz sentido.

O século XX vai chegando ao fim e o homem se depara com a solidão capitalista.
Resta a Broadway e similares, o teatro musical comercial. A peça “Hair” nos anos 60 ou “O Fantasma Da Ópera” e “Cats”.

No Brasil o teatro surgiu nos 1800 em forma das comédias de Martins Pena. No modernismo, só Oswald de Andrade escreveu peças relevantes.

Na década de 1950 e 60, surgem muitos grupos teatrais. Nomes como o pernambucano Nelson Rodrigues ou ainda Millor Fernandes, Plínio Marcos, Oduvaldo Viana, Guarnieri e encenadores como Ziembiski, Antunes Filho e Augusto Boal. No Recife surgem o TAP e diretores /dramaturgos como Hermilo Borba Filho, Luiz Marinho, Ariano Suassuna (paraibano radicado no Recife), Isaac Gondim e Valdemar de Oliveira.

A Veneza Brasileira no final dos anos 70 vê surgir grupos como o TUBA, com o espetáculo “Guarani com coca-cola” e o talentoso João Falcão, com suas comédias, chega a lotar teatros e a fazer turnês pelo Brasil. Destacamos também a escrita e direção vertiginosas do dramaturgo Henrique Amaral. Nos anos 90, vem o besteirol da Cinderela, seguindo e deturpando um filão aberto por Mauro Rasi e Miguel Falabela.

O teatro recifense sobrevive em busca de um perfil. Há diretores como Cadengue e Carlos Bartolomeu que são “clássicos”; outros, como José Francisco, raramente encenam. Quanto aos jovens grupos, esses são experimentos anômalos.

Há que se destacar os nomes de hoje Adriano Marcena, Felipe Botelho, este da minha geração e com quem já compartilhei algumas discussões sobre nossos textos, e João Denys. Há também um festival nacional por aqui.

Mas a chama que os gregos acenderam permanece como um farol e todos nós estamos seguindo viagem.

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Moisés Neto

Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED (Sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão em Pernambuco).


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