Andy Warhol 2002: 15 anos sem o pai da Pop Art

                                        por Moisés Neto
(análise do livro The Cult of Avant-Garde Artist, de Donald Kuspit)


Warhol disse que não importa se você é trapaceiro, todos querem estrelas!

Spinoza diz que as pessoas querem seguir alguém.

Warhol perseguiu a forma. E daí?

Um Midas do nada, ele refletiu o “nada”, o vazio da humanidade, sua banalidade, falsidade (jogo de más caras, camuflagem), pura tautologia (pleonasmo desenvolver uma idéia sem chegar a uma conclusão, sem achar ou compreender sua compreensão). Fama para ele, era uma construção vazia.

Baudelaire disse que banalidade é o único vício, Warhol transformou isto em mesmice; à qual todos se rendem em nome da ... fama! (e convencem até a si mesmos que não).

Andy usou a fama com a terapia, que não cura (como sua vida demonstrou).

A arte como “desilusão”.

Se o modernismo acreditou na arte como cura, o pós-modernismo não acredita em tal coisa (nem pelo lado historicista nem pelo o semiótico).

Coisificar (reificar, como desenvolveu/estudou/teorizou Luckacs a partir de Marx): revolucionários (modernistas) e reacionários (pós-modernistas - no sentido de não quererem “mudar” a sociedade).

O pós-modernismo em Warhol é mais ou menos masoquista e “cívico” e com “linguagem” ( semiótica )fácil.

Suas obras de arte são como “Pilares de sal” que sustentam o antigo regime numa dialética entre não ser ninguém e ser uma superestrela.
(Só fama interessava, o resto era descartável.) Ele era uma máquina, uma “metáfora de Deus”. Uma máquina de influenciar

Ele gostava mais de representar coisas do que pessoas. Como fez o modernista Giorgio de Chirico: coisificou o homem.

Warhol usou sua despersonalização como mais uma defesa contra o sentimento de “não ser nada”.

Se de Chirico era enigmático, trabalhava o inconsciente, Andy evitou isso, transformando-o em ânsia narcisista.

“Me sinto como nada”, dizia e achava que negar sentimentos inquietantes era a melhor maneira de trabalhar com eles (de Chirico e Andy) usavam “Arte em Série” (como pedia nossa pós-terapêutica sociedade pós-moderna).

Vampirismo: Andy copiou os famosos, que perdiam mais ainda sua originalidade, assim (era a recusa da originalidade humana!).

Para Warhol, todos podem ser “coisificados”, ninguém muda (por dentro?) e sim, se repete (“há cópia”), o que pode haver é a coisificação do destino, a cópia mantém o status quo” – fama para Warhol era aparência. O jogo niilista de Andy reduz o humano à rotina.

Ele levou a ironia indiferente de Duchamp ao extremo! Produziu sua arte reduzindo-a a um jogo trivial, fácil de jogar e vencer.

Forjou uma persona pública e procurou viver como os outros o viam, como num caixão em forma de fotografia.

Ele tornou garrafas de coca-cola, tampas, caixas de sabão, notas de dólar, famosos epítomes (resumos) de sua falta de compaixão, transformando esses objetos, ou mesmo evidenciando-os em suas ilusões de sentido (“meaningless illusions”), num jogo artístico, ímpar, projetando neles sua “farta de sentido” sádica, como se a “falha trágica” da arte fosse ser “levada a sério”.

Seu desejo de fama – como uma piada perversa trazia embutido o desejo de morte.

Os famosos preenchem os desejos daqueles que querem ser iludidos, trapaceados (“crooked”) :A trapaça é a condição da fama,e esta satisfaz o narcisismo da sociedade.

Fama é a teatralização do sentimento de ser nada: não libera o artista disso! Coisificação do sentimento de que “nada” é tão real (na vida interior – para satisfação pessoal.)

Warhol “colecionou” pessoas e coisas (pessoas como coisas), num tipo de teatro onde as coisas representam “possibilidades abandonadas”, como suas “superestrelas – superstars – máscaras tragicômicas de sentimentos de destruição reprimidos, (como em Oscar Wilde) uma espécie de “final-fetiche”. Tal teatralização permitiria “fugir” da auto-análise, da auto-crítica.

Teatralização é o modus vivendi da sociedade pós-moderna. Ela quer continuar a mesma. Nada para se descobrir: o velho deve parecer novo pelo teatro farsa. Warhol simbolizou isso, ao mostrar:

Modernos (Fama. Rejuvenescimento.Tendo como princípio a realidade) versus pós-modernos (Celebridades. Padroniza o ser para agradar as massas, tendo como princípio o prazer).

Alguém se torna famoso por descobrir o que está “escondido”. E célebre por narcisismo. A sociedade alterna modernidade e pós-modernidade conforme seus momentos (históricos): Picasso, modernista arquetípico: sugeriu “novas verdades” sobre a vida (como pós-moderno Warhol não fez isso.Preferiu a cópia). Para o pós-modernismo a terapia era fútil, pois vida “é destino”. Pós-modernismo é um teatro (indiferente à vida real!?)

Ao recusar arte como terapia, o pós-moderno Andy realça muitas patologias, tipo: narcisismo, é humano abusando de humano (como no seu filme Trash ).

A celebridade é como Nero tocando enquanto Roma ardia em chamas (como Os Simpsons? South Park – Paulo Francis?), uma falsa sinceridade ou sinceridade falsa (ou cinismo).

Hoje nem caráter, nem convicção, nem criatividade se fazem necessários para se ser artista, basta narcisismo ( e muita mídia!) .Artistas hoje não sabem quem são, só que são celebridades e isto basta (sejam sinceros ou não) para disfarça o “vácuo” .

Para Warhol não havia limites entre sinceridade e falsidade (às vezes sinceridade para Andy era uma coisa “incompreensível”). Na sociedade moderna acredita-se em relações sinceras, na pós-moderna não. (ela é falsa, cívica, externa-como não pensar em produtos como Xuxa, Sandy e Júnior?)

Sublime indiferença: Warhol e seu zoológico de clones.Olhares que não interagem têm certa autoridade, protegem-se da perda de audiência forjando uma auto-glorificação megalômana tipo esquizóide.

Warhol virou referencial.Disse que no futuro todos seriam famosos por 15 minutos e aqui estamos nós ,15 anos depois da sua morte: em pleno reality show.
Let´s go on!

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Moisés Neto

Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED (Sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão em Pernambuco).


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