O concretismo

                                        por Moisés Neto


• Origens
 

 “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária” (Maiakóvski)

 
Levando ao máximo a tendência ao despojamento vocabular e à racionalização da linguagem que vimos principalmente em João Cabral  de Melo Neto, vai surgir um movimento de vanguarda, que após a explosão modernista de 1922, foi o que trouxe à literatura brasileira o maior impulso no sentido de uma renovação  estilística: o Concretismo.
 
A Poesia Concreta é originária do trabalho conjunto do grupo que se reuniu em torno da revista-livro Noigandres(antídoto do tédio,em provençal). A equipe era composta por três jovens: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
 
Seu consumo se deu da maneira mais surpreendente. Na linguagem e na visualidade cotidianas, a Poesia Concreta comparece. Está no texto de propaganda, na paginação e na titulação do jornal, na diagramação do livro, no slogan de televisão, na letra de “bossa nova” (“Teoria da Poesia Concreta”, Revista Invenção, pag. 5)
 
 
 
• Características 

 
Tem conexão com o status tecnológico do nosso século e reflete a influência dos meios de comunicação de massa: jornal, televisão, revista em quadrinhos etc.
 
Preconiza a substituição da estrutura da frase, peculiar ao verso, por estruturas nominais, que se relacionam especialmente tanto na direção horizontal como na vertical. A substituição  da sintaxe verbal pela sintaxe analógico-visual deve ser entendida como fruto legítimo  da civilização audiovisual.
 
Na medida em que o material significante assume o primeiro plano, verbal e visual, vale destacar alguns procedimentos: no campo semântico: ideogramas (“apelo à comunicação não-verbal”, polissemia, trocadilho, nonsense; no campo sintático: ilhamento ou atomização das partes do discurso; justaposição; redistribuição de elementos; ruptura com a sintaxe da proposição; no campo léxico, substantivos concretos, neologismo, tecnicismos, estrangeirismos, siglas, termos plurilingües; no campo morfológico: desintegração do sintagma nos seus morfemas; separação  dos prefixos, dos radicais, dos sufixos; uso intensivo de certos morfemas; no campo fonético: figuras de repetição sonora (aliteração, assonâncias, rimas internas, homoteleutons); preferência dada às consoantes e aos grupos consonantais; jogos sonoros; no campo topográfico: abolição de verso, não-linearidade; uso construtivo dos espaços brancos; ausência de sinais de pontuação; constelações; sintaxe gráfica.
 
O poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. Seu método material: a palavra (som, forma visual, carga semântica).
 
 
 
A POESIA PRÁXIS
 
 
Foi, de início, uma ruptura polêmica e agressiva com o grupo concretista, retomando o engajamento histórico e a linguagem verbal, a palavra.
 
A Poesia Práxis teve como seu principal teorizador e autor o poeta Mário Chamie, que rompeu com o grupo concretista, por volta de 1961 e, junto ao poeta veterano Cassiano Ricardo, pesquisou uma “nova estrutura” para o poema. Em 1962, Mário Chamie pública o livro Lavra Lavra, que representou a grande abertura para a Poesia Práxis.
 
-        todo problema tem as suas palavras;
 
-        cada palavra tem o seu centro de energia e o seu vocabulário;
 
-        todo vocabulário de uma palavra tem as suas relações em níveis sintático, semântico e pragmático;
 
-        cada núcleo  de relações condiciona blocos de estruturas correspondentes;
 
-        cada bloco de estrutura é uma originalidade formal, refletindo um aprendizado particular do autor;
 
-        cada originalidade formal é, necessariamente, um texto que esgota a área de que é levantamento;
 
-        cada texto, nas múltiplas linhas de força desse processo, é linguagem que a própria área possibilitou, pela mediação da palavra.

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Moisés Neto

Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED (Sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão em Pernambuco).


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