JOAQUIM CARDOZO (Recife.1897-1978)

CARACTERÍSTICAS:

* Domínio das formas poéticas

* Modernidade nas criações

* Grave e solitário ("lento e longo", disse João Cabral de Melo Neto)

* Descreve o Recife histórica e poeticamente

* No início sofreu influência parnaso- simbolista

* Influência do Expressionismo (exagero) alemão do politizado Brecht.

Preocupação com as contradições do fenômeno urbano( participou como engenheiro na construção de Brasília e testemunhou a euforia da Era JK ): "Homens de todas as fadigas/ magoados rostos doloridos".

Recusa o otimismo ingênuo, descrê das soluções nacionalistas desconfia do nosso potencial moderno em relação bem-estar do homem . O progresso é devastador. O urbano é abismo, melancolia.

Expõe jogo de interesses do capitalismo (colonialismo/indústria) , escreve sobre proletários.

Faz referência a um tempo "saído da memória" , recuperado pela construção da linguagem. "Feliz Dezembro! /Profusão de verdes novos/(...) como vai florido este verão!/Sombra de nuvem corre pela estrada/(...)Vejo o subúrbios tranquiilos(...) e fico a pensar e sentir(...) desejo de lembrar coisa esquecida".

Saudosismo evita o caos.

Escreve peças teatrais abordando o folclore pernambucano.

Cardozo fala da "terra do mangue", sem "ufanismos" , nem pieguismos :"A terra do mangue é preta e morna /mas (...)tem olhos e vê(...)olha os automóveis que correm no asfalto(...)/ Não há motivos, Margarida, para teus receios./ Olha através da porta do teu mocambo à sombra da noite/imóvel/sob a perpétua luz das estrelas frias e impassíveis/ A terra do mangue está dormindo."

COMENTÁRIO: O eu-lírico se harmoniza com a terra do mangue e dramaticamente observa o progresso: "os automóveis que correm no asfalto". É uma forma de dar à "poesia regionalista" novo rumo. "Recife pontes e canais (...)/ torres da tradição, desvairadas, aflitas/ apontam para o abismo negro-azul das estrelas...". "Ó minha triste e materna e noturna cidade/ reflete minha alma rude e amargurada". Sobre Olinda o poeta também exalta a antiguidade , a luta, as igrejas.

Versos livres.

Tom profético.

Personificação(da cidade-Recife, de seres inorgânicos. Usa técnica Surrealista: "A voz das bandeiras anuncia(...)/ tanta mulher apressada(...) a tagarelice dos bondes e dos automóveis, um camelô gritando:- Alerta! / Algazarra. Seis horas. Os sinos ./ Recife romântico de crepúsculos das pontes /Dos longos crepúsculos que assistiram a passagem dos fidalgos holandeses ,/que assistem agora ao movimento das ruas tumultuosas ,/ Que assistirão mais tarde à passagem dos aviões para as costas do Pacífico. / Recife romântico dos crepúsculos das pontes/e da beleza católica do rio." . É o imaginário pernambucano, presente/passado/futuro, testemunha dos tempos como o poeta o é, no clímax do caos moderno, em linguagem clara e equilibrada(quase matemática).

Jogo: Física X Metafísica: "O trem se desprende da história/(...) O trem atravessa rompendo a barreira do som/ Tudo agora é silêncio(ruído branco? )/ Não corre mais, nem voa: nem vacila, nem flutua"( Cardozo em "VISÃO DO ÚLTIMO TREM SUBINDO AO CÉU" ).

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Moisés Neto

Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED (Sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversão em Pernambuco).


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