Mais um poeta...

Todo dia, novos Rimbauds. Um filosófico Nietzsche a cada amanhecer. Jovens cujos trajes encobrem a ânsia da vida pela explicação de sua origem,remota,terremota, diferente,que nem neologismos poderiam abarcar com eficácia.
Vivemos dias estranhos. Mas, será que já foram óbvios?

Presos a computadores e às convenções de uma sociedade ainda tão injusta como sempre foi.

Existe em algum lugar do Recife um cara chamado Danilo, Calibã, Calixto, sei lá como ele se chama agora.

Esse cara é uma espécie de mutante que grita e tem uma garota que o acompanha. Ele mistura piedade com execução e vai de um extremo a outro em segundos.

Suas mais recentes tentativas de sair do corpo tenham talvez pouca utilidade, como ele mesmo diz, mas, pressente-se nelas alguma mágica e muitos fantasmas, bons e maus fantasmas, diga-se logo.

O que ele divulga são escritos que fundem poesia e prosa filosófica em ritmo convulsivo, abrasante, obtuso, desconexo, incompleto vômitos de um cérebro efervescente, labiríntico. Uma escrita como poucas.Dá-nos também a impressão de quem busca um caminho e esquece que apertou o botão da bomba e o “clic” não foi seguido, ainda, de uma derradeira(?)explosão. Palavras vindas de um ser impuro, por algum motivo, “esfíngico”, amamentando os “grandes gânglios da humanidade”, “elucidações químicas para entender a lágrima”.

São parágrafos enormes, períodos que se estendem por linhas a fio.Uns textos herméticos, neologismos, metáforas, hipérboles, metonímias, aliterações, antíteses que vão corroendo a tecitura de sua escrita criptográfica, hieroglífica, lisérgica, entorpescente mesmo.Em vez de olhos, as folhas parecem pedir que nos deixemos injetar com este líquido, numa entrega lenta ,um tanto quanto agônica.

As folhas têm bocas enormes, olhos fundos e acuados (“esponjas de absorção”) grosseiramente feios.

Danilo fala de uma tal “PERVERSIDADE VAGINAL”, de um ser que produz alimentos dentro de si, contrapondo a este “ser” outro enigmático:o “músculo do perdão”.

“Vou engolir todo o meu sêmen” ,brada o Zaratustra recifense. “Sabedoria sob forma de um longo coito”.

É a incerteza dos sentimentos poéticos que o assalta? Que o leva ao questionamento da posse fatalista e de certa forma primitiva e conservadora.

“Ver o sol dentre persianas é quase tão maligno quanto a pior obsessão espiritual que possamos sofrer”. O poeta-filósofo transforma os estertores do seu tédio em verdades absolutas. Há nele uma necessidade de crime e o nojo pela própria necessidade refletida no outro que lhe parece desprezível: “Consegues olhara para trás com este desprezo forte e com esta alegria tão libertina e natural”.

“Um dia quis ser rei em quatro linhas(...)ter os maiores braços do mundo(...)as músicas adequadas não paravam de ciscar no meu espírito(...)Deus não devia ter me dado tantas almas”, sentencia, aproximando infinito e sarjeta num caleidoscópio de vertiginoso torneio verbal onde um tipo de São Jorge dispara as tintas contra um dragão de língua certeira: “Sarrafo,pau na moleira.Porradaria segura!”




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