X - POR TRÁS DAS GRADES: GINGIBIRRA

         Pré-carnavalesca vistoria do Batalhão de Choque da Polícia Militar na penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá: 49 estiletes, 29 facas, porretes de madeira, espetos, alicates, 160 litros de cachaça artesanal (feita com arroz e frutas cítricas, que os presos fabricavam no seu alambique improvisado nas celas com 12 panelas de pressão que os visitantes levaram), 29 cachimbos para fumar crack ou maconha.

         Gingibirra, nome da cachaça feita na cadeia, traz-me à mente a experiência feita em Amsterdã, pelos protestantes no século XVI: por que aos nossos presos não são oferecidas ocupações lucrativas? (trabalho forçado como punição?) Se coisas como a "gingibirra" virassem negócio?

         Sabemos que muita gente é presa por roubar comida, porque não há emprego e os salários são miseráveis no Brasil todo. É humilhante.

         Era a semana pré-carnavalesca dos presos também: "castigo e virtude é domar o que todos temem", dizia o cartaz sobre uma das prisões holandesas de correção, a "rasphuis". Lá a folia era outra: além dos criminosos ficavam em trabalhos forçados crianças rebeldes que eram  internadas pelos próprios pais para se disciplinarem. Era o ano de 1596.

XI - CORAÇÃO DESENGARRAFADO

         As instruções do Departamento de Trânsito para quem vinha de carro ou ônibus para sentir os 45 graus de calor do Galo da Madrugada no sábado de Zé Pereira - pareciam um poema de Manuel Bandeira:

DICAS PARA CHEGAR AO CENTRO

·        Quem vem pela Avenida Sul: retornar a partir da Travessa Padre Azevedo, seguindo pela pista lateral do muro do Metrô, Travessa do Raposo ou Rua Imperial.

·        Quem vem de Boa Viagem (pelo Cais José Estelita): seguir pelo Viaduto das Cinco Pontas e a partir do Cais de Santa Rita pegar a Rua Martins de Barros, Praça da República, Ponte Princesa Isabel e Rua da Aurora.

·        Quem vem de Boa Viagem (pela Avenida Agamenon Magalhães): vir pelos Coelhos, Cais José Mariano, Rua da Aurora, retornando pela Rua João Lira ou pela Avenida Mário melo.

·        Quem vem pela Avenida Norte: seguir pela Rua da Aurora até a Avenida Mário Melo.

·        Quem vem pela Avenida Conde da Boa Vista: entrar à esquerda na rua da Soledade, Rua Oliveira Lima, Rua do Hospício e retornar pela Avenida Conde da Boa Vista.

·        Quem vem pela Avenida Cruz Cabugá: retornar na Rua do Hospício, no Parque 13 de Maio, ou seguir pela Rua Princesa Isabel, Ponte Princesa Isabel, retornando pela Praça da República. Outra opção é entrar na rua do Imperador, onde o retorno obrigatório será na Rua Marquês do Recife.

ROTEIRO DAS LINHAS DE ÔNIBUS

·        Quem vêm de Paulista, Olinda e Igarassu pela Avenida Cruz Cabugá: circulam pela Avenida Norte, Rua da Aurora, Avenida Mário Melo e retornam aos subúrbios pela Avenida Cruz Cabugá.

·        Que passam pelas ruas do Hospício e Princesa Isabel: seguem pela Avenida Mário Melo e retornam pela Visconde de Suassuna.

·        Quem vêm pela Avenida Norte: circulam pelas avenidas Cruz Cabugá e Mário melo, rua 13 de Maio e voltam aos subúrbios pela Avenida Norte.

·        Que trafegam pela Avenida Conde da Boa Vista: entram à esquerda na Rua da Soledade e seguem pelas ruas do Príncipe ou Oliveira Lima. Retornam pela Rua Gervásio Pires ou Rua do Hospício e Avenida Conde da Boa Vista.

·        Linhas da Zona Sul: seguem pelo Viaduto das Cinco Pontas e voltam pelo Cais de Santa Rita, pegando o Viaduto das Cinco Pontas novamente.

·        Que vêm da Avenida Sul: retornam aos subúrbios a partir da Travessa Padre Azevedo, seguindo pela pista lateral do muro do Metrô, Travessa do Rapouso ou Rua Imperial.

XII - LÍNGUAS ÁGRAFAS

         Existem línguas não escritas. Palavras, palavras, palavras... nem faladas, nem escritas elas descrevem as descobertas e encobertas no carnaval do Recife.

         Por que tantos decidem desde a noite da sexta-feira até quarta-feira de cinzas entregar-se a esta festa?

Que língua é esta do carnaval no Recife?

São fantasias absurdas: MADONNA cercada pelos seus seguranças, chuveiro ambulante, diabos, anjos, bebês, travestis, heróis dos quadrinhos, TV, folclore... tudo, mesmo.

É como se de repente as leis da física e química não existissem.

Uma nova lei se instala, manobra olhos, corações, pés, sexo... e o resto.

Um dos blocos cantava assim: "Beijo na boca é coisa do passado, a moda agora é namorar pesado".

Há uma estranha entonação no idioma dos foliões: "uma mistura da gula de carnaval com a libidinagem, que rima com libertinagem e com a surpresa de quem se encontra",  como Jomard Muniz definiu a festa/desfile do "Nóis sofre mais Nóis goza-2001: A vaca louca chega ao planalto",  tema que faz alusão ao escândalo recente da proibição canadense sobre a carne bovina importado do Brasil.

Tigrão! Popozuda! Cachorra! o funk que veio do Rio de Janeiro não foi liberado para tocar em som "mecânico", mas todos cantavam  nas ruas (as prefeituras Recife e Olinda obrigaram ritmos locais - que bom! Quem não respeitou isso nas ruas teria seu aparelho apreendido).

Um tapinha não dói?  Tapa na cara?  Eis as primeiras frases que os neófitos devem aprender na comunicação carnaval Recife 2001.

Dança do ventre? Ritual de acasalamento? o que as popuzudas representaram em 2001? A odisséia das nádegas, seios, que aos poucos fundem sentidos e expressões humanas numa espécie de esperanto.

XIII - QUEM É O PAPANGU?

         VOCÊ, É. VOCÊ, É?

         Distante 107 km do Recife está a cidade de Bezerros. Ela tem uma brincadeira chamada Papangu. Um desfile de mascarados que vem chamando gente de todos os lugares. Tem gente que faz questão de passar anônimo e brincar como se fosse "ninguém" conhecido. Fantasias como Papagus-anjos, palhaços, bruxas, espantalhos e tantos outros misturam-se às fantasias como "a pedido do rei do baião, Nossa Senhora abençoe o sertão", um papangu vestido como mãe de Cristo.

         Japonês, dinossauro, colombina, nega maluca, noiva. Tinha, em Bezerros 2001 um carro como cachorros mascarados desfilando (o "Papandog's em Folia").

         E no final do dia comer o angu de Bezerros.

         O angu dos mascarados é um ritual meio macabro - anárquico - poético. E... voltamos o ano que vem? Embora eu nem saiba se você é homem, mulher, velho, moço, feio, linda.

XIV - À MEIA-NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER

         Há quase setenta anos (69) um "calunga" muito especial desfila na madrugada de Olinda (em Bonsucesso). É o bloco do Homem da Meia-Noite.

         Tudo começou no Governo de Getúlio e o boneco é meio dândi, meio macumba e completamente trocista. Usa um terno verde, cartola, bigode, cavanhaque, calça branca, gravata borboleta e exibe enigmático sorriso. Ele toma conta repentinamente dos que o seguem, não há quem possa resistir quando ele "baixa".

         À meia-noite tocam os clarins e o bloco sai.

XV - SILENCIAM-SE OS TAMBORES

         No 1º Carnaval da Revolução Militar (1965) "em memória dos negros que morreram na escravidão", criou-se "a noite dos tambores silenciosos", um espetáculo que acontece toda segunda-feira de carnaval no Pátio do Terço e atrai foliões de todas as categorias, é outro evento que os intelectuais costumam prestigiar.

         Este ano tiraram as arquibancadas da frente da igreja de Nossa Senhora do Terço. Antes houve um ritual, às 18h, na frente da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, na Rua Estreita do Rosário, esta igreja foi a 1ª construída para negros no Recife barroco.

         À meia-noite o pessoal que toca os tambores, os reis, rainhas, a corte toda, damas do paço, todos ficam na calçada, as luzes são apagadas e inicia-se um momento arrepiante.

         Dizem que quem "inventou" esta "noite" foi o jornalista Paulo Viana que faleceu em 1987 aos 65 anos, ele era presidente da Associação dos Cronistas Carnavalescos. Ele apresentou o poema "LAMENTO NEGRO", que foi musicado por João Santiago, no Pátio do Terço - Era uma referência aos escravos que não podiam brincar carnaval.

         A intenção do intelectual era a revalorização dos ritmos africanos que estavam ficando esquecidos em Recife.

XVI - TEM ALGUMA LATINHA SECA? UMA GARRAFINHA DE

PLÁSTICO?

Perguntavam várias pessoas, até bem vestidas e de aspecto saudável, pelas mesas, pelas ruas.

Eram os catadores de latas vazias de cerveja e refrigerantes. Eles revendiam o produto reciclável por um real por um real e meio, o quilo, e ajudam a tornar o campo de folia livre daqueles objetos.

Dos postos de recolhimento (4) um ficava perto: no Cais de Santa Rita, todos funcionavam 24 horas por dia.

De acordo com a Associação Brasileira de Alumínio são milhares de trabalhadores nesta área em todo o país. No Recife existem 300 pessoas cadastradas como "catadores de lata" - mas "não precisa estar cadastrado, basta chegar lá e comercializar",  avisou a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (EMLURB) que calcula um "lixo" de quase 80 toneladas de alumínio. Garrafas plásticas rendem 50 centavos por quilo, e somam 5 toneladas.

XVII - NÃO DOEU TANTO

         Certas músicas confundem-se com a realidade e levam a alterar o pensamento das pessoas que estão pulando na folia, uma espécie de farsa sensual e transgressora da moral e dos bons costumes, num ritual de abandono e alegria.

         Do Rio, São Paulo e Bahia vieram músicas que aportaram no Recife mesmo com a proibição explícita da prefeitura quanto a sua execução pública.

"TAPINHA"

Vai, glamourosa

Cruza os braços no ombrinho

Lança eles pra frente

E desce bem devagarinho

Dá uma quebradinha

E sobe devagar

Se te bota maluquinha

Um tapinha vou te dar

Dói, um tapinha não dói

Um tapinha, não dói

Um tapinha não dói (só um tapinha)

Vai, glamurosa...

Em seu cabelo vou tocar

Sua boca vou beijar

Combinando com a bundinha

Maluquinho pra apertar

Dói, um tapinha não dói...

Mc Beth e Naldinho

"TAPA NA CARA"

Se ela mepedir

O que vou fazer?

Deus me ajude

Em mulher não vou bater

Mas ela me pede todo dia, toda hora

Quando a gente faz amor

Tá, tá, tá, tapa na cara

Tapa na cara, mamãe

Tapa na cara, mamãe

Se você quiser

Eu vou te dar

Vem com o Pagod'arte

Venha requebrar

Joga a mão para cima

Bate na palma da mão

Que eu quero ver

É balançar

Digue, digue, ai, ai, ai

Vem, vem, vem, vem

Eu vou te dar

Mamãe, mamãe

Tá, tá, tá, tapa na cara

Tá, tá, tá, tapa na cara

Alex Xela

         Houve muita polêmica e a imprensa analisou a "onda", que segundo os cariocas do "Furacão 2000" (empresa) o funk "alivia dores e misérias com uma música alegre e bem humorada".

         Já Ivete Sangalo não acha "tapa na cara" (dos outros) uma coisa ruim: "todas as vezes que eu sentir que o povo quer ouvir 'tapa na cara', vou cantar a música, declarou a baiana enfezada.

         Outras músicas celebravam "as cachorras",: "as popuzudas" e muito mais, fazendo as brincadeiras de dona Selma do Coco ("Pega, pega minha rola") parecerem coisas de criança, aliás a expressão "tapinha não dói", inspirou-se em crianças que implicam com os pais quando apanham e dizem, para provocá-los, que "não doeu".

XVIII - URSOS, BOIS E ÍNDIOS: ATACAR!

         28 ursos na segunda de carnaval atacaram no Pátio de São Pedro. É uma brincadeira que vem do século 19 e traz diversas explicações na sua "história". Teriam sido os ciganos que brincavam com tal animal amestrado em circos e feiras, inspirando os recifenses a criar estas "brincadeiras" no carnaval?

         "Certa  vez, um brincante trocou de fantasia com outra pessoa do grupo. Ao voltar para casa, o novo urso agarrou uma garota do bairro. A mulher do brincante, pensado que era o marido, desceu a lenha no rapaz."

         Assim explica Roberto Benjamim, e continua: "No carnaval, o personagem usa uma máscara semelhante à cabeça de um urso e um macacão peludo. Na área urbana o macacão geralmente é feito com tiras de pano, estopa de limpeza e ráfia. Na área rural são usadas fibras vegetais, como sisal e até raiz de samambaia, dando um aspecto bastante primitivo à brincadeira.

         Um urso de Carnaval (ou La Ursa) é formado pela figura do animal preso por uma corda ou corrente, um domador, um caçador e um italiano, acompanhados de uma pequena orquestra com sanfona e instrumentos de percussão como pandeiro, caixa e triângulo. A denominação La Ursa, é uma influência da origem estrangeira da brincadeira. O urso muda de significado com a dinâmica cultural.

         As agremiações tradicionais têm o nome da localidade onde foram criados, como Teimoso da Torre, Mimoso do Coque e Manhoso da UR-10, ou da cor da fantasia, como Preto da Pitangueira, Branco do Zé e Prateado. Com o passar dos anos, em Pernambuco, urso identifica o amante da mulher casada, dando um novo significado à brincadeira, na direção da obscenidade. Sob a nova influência surgem os ursos da Tua Mãe, do Vizinho, do Pau Amarelo e da Língua de Ouro.

         Essa dinâmica recupera um significado atribuído ao urso nas regiões onde o animal habita, como os Pirineus (entre a França e a Espanha), a Romênia e a Rússia. Nesses locais se costuma atribuir ao urso o filho da mãe solteira cujo pai não é identificado. Lá, existem contos populares que narram situações de mulheres seqüestradas por ursos, que mantêm relacionamentos conjugais com o animal e geram filhos."

         Já o desfile de "bois" envolve o sagrado e o profano numa brincadeira que no carnaval reveste-se de um caráter bem peculiar: "grupos de bois de carnaval, vêm às ruas num colorido e coreografia próprios para os dias de folia." Diz a persquisadora pernambucana Cláudia Lima, "compostos pro mais de 60 personagens, os bois arrebanham figuras como Mateus e Catirina, burrinha, ema, cavalo marinho, morto carregando o vivo, capitão, babau, mané pequenino e por aí vai."

Segundo Roberto Benjamim "o boi de Carnaval é uma manifestação típica de Pernambuco. O boi é o desfile das figuras do bumba-meu-boi, sem a representação do espetáculo que acontece no ciclo natalino". Mário Souto Maior acrescenta que, no Carnaval, o boi sai apenas para dançar, se divertir e pedir dinheiro nas ruas da cidade.

"A brincadeira tem uma tradição maior no interior, mas a migração da população rural; para a capital trouxe o folguedo para o Recife", observa Roberto Benjamim". Os personagens que desfilam no boi representam animais, humanos e seres fantástico.

Uma pequena orquestra com bombo, gaita, gonguê, surdo e tarol. Ao contrário do ciclo natalino, no qual um espetáculo do bumba-meu-boi pode varar a noite, o desfile do boi de Carnaval dura no máximo 30 minutos".

No caso dos índios, "caboclinhos", a "história" não deixa de ser fascinante também: 23 "tribos" com sua dança, música e roupas coloridas vêm da Zona Norte ou de cidades como Camaragibe, São Lourenço e outras. Estes desfiles começaram há mais de um século e trazem no seu bojo o culto da Jurema Sagrada, citada até por José de Alencar no livro "Iracema" (ela era uma sacerdotisa).

Os destaques são os "caciques" e as "mães das tribos", além, é claro, dos "perós", as crianças. A "orquestra" é composta geralmente por uns poucos músicos a tocar, flauta e percussão. Muitas garotas desfilam com os seios à mostra e velhos "xamãs" executam, em determinados momentos do desfile, estranhos rituais, como por exemplo adormecer crianças e acorda-las de modo mágico, o que de certa forma encanta a platéia. É um ritmo hipnótico.

XIX - QUE LOUCURA!

Que os foliões são meio doidos todos sabem, que Grécia, Roma, Veneza e Brasil encontram-se na folia não é novidade.

No carnaval a vida só aparece de viés: o estar no mundo, ser mestiço, ser selvagem, ou mesmo ter carne branca, pele clara, e espojar-se na multidão, caldeirão racial incomparável, sabores e calores, odores floridos e fedores, pruridos. Poesia e prosa em celebração anárquico-pagã. Porque a quarta é de cinzas.

Surge uma espécie de ópera coletiva composta de olhares e suores, relaxação e tragédia. Escárnio e júbilo. Paixão e demência. Estremecimento e satisfação. Tédio e carinho. Repúdio e ócio.

Contemplar o carnaval é como contemplar a natureza, a lua: é frustrante, não nos completa, não podemos abarcá-lo!

Não há estratégia certa: a realidade transmuta-se, rompe-se o limite palco/platéia. Ergue-se então o quadro-vivo, o público entra na obra de arte compondo-a, usufruindo-a num engano ao ar livre, em clubes, com atitudes frenéticas, espirais fulminantes. Sensações "malucas" em dança coletiva. Corpos seminus entregando-se, recolhendo.

XX - EU SOU O SAMBA

         Reza a cartilha:  "a primeira escola de samba chegou ao Recife pelo mar; na época da II Guerra Mundial, quando o Encouraçado São Paulo trouxe, além da banda marcial, componentes de um bloco chamado Mimosas na Folia. Quase seis décadas depois, a tradição continua, sem as pompas da Marquês de Sapucaí, no Rio, mas com a garra dos sambistas locais."

         O desfile das escolas de samba no carnaval do Recife 2001 foi na Av. Dantas Barreto e homenagearam o sambista Nilton Elias, falecido, o presidente querido da FESAPE (Federação das Escolas de Samba de Pernambuco). O acesso às arquibancadas (reduzidas este ano) foi gratuito. Houve desfile no domingo e na Segunda-feira.

         No 1º dia a chuva atrapalhou um pouco e a Escola "Intimidade do Coque" não desfilou foi prejudicada, não podendo desfilar.

         A Galeria do Ritmo, do Morro da Conceição, foi a campeã do ano passado e é uma das favoritas no Carnaval 2001. Com o tema O Reino das Águas no Planeta Terra, a agremiação desfilou trazendo 18 alas, cinco carros alegóricos e bateria com 150 ritmistas, levantando o público, bem menor pelo adiantado da hora.

         Na noite de segunda-feira, as escolas voltaram a desfilar. Houve atraso por conta da desistência de algumas agremiações, como a Sonhos Dourados, Oriente do Samba e Acadêmicos do Cordeiro. Quem ficou para acompanhar a festa, que acabou às 4 h, aplaudiu a passagem da Império do Samba e, principalmente, da Gigantes do Samba, que fez um desfile correto e mais uma vez é forte candidata ao título.

Com o tema "Gigante Ruma à Terra do Sol Nascente", uma alusão à viagem que a agremiação fez ao Japão no ano passado, a Gigante entrou com 10 alas, cinco carros alegóricos, três casais de mestre-sala e porta-bandeira, três alas com passistas de frevo, além de 100 crianças na Ala da Harmonia".

XXI -

         O 1º carnaval do século 21 exibiu-se com cara de Maracatu: foram mais de 80 agremiações desta categoria desfilando no carnaval do Grande Recife.

         No espaço Ilumiara Zumbi a Associação de Maracatu de Baque-Solto de Pernambuco promoveu, como já faz há dez anos, um encontro destes grupos.

         Mestre Salustiano, coordenador espontâneo do evento comandou a festa com seu "Piaba de Ouro".

         Um toque peculiar: As Loas que foram tiradas no calor do improviso citavam coisas como "Rock in Rio", "tapinha não dói" e sem contar o fato que de brincadeira de cortador de cana do interior o Maracatu de Baque-solto e seus lanceiros agora aumentam seus números com brincantes urbanos.

         O carnaval do Recife 2001 teve no ritmo do Caboclinho e do Maracatu seus pontos mais recorrentes.

XXII - E O FREVO?

         O frevo, que é pernambucano, é uma mistura de polca com maxixe e tem gravações em disco desde o começo dos anos 20. As marchas pernambucanas fizeram sucesso até no Rio de Janeiro daquela época.

Diz o pesquisador fonográfico da Fundação Joaquim Nabuco, Renato Phaelante, num artigo publicado no Jornal do Commercio (27.02.2001): "Capiba surgiu com a marcha nortista Morena do amor; na interpretação de Capiba e sua jazz Band Acadêmica do Recife, conforme selo do disco.

Para muitos, esse foi um período de transição para o nascimento do frevo ou, melhor dizendo, da modalidade, do frevo como ritmo na história de nossa discografia.

Após algumas pesquisas, chegamos à conclusão de que, na história do disco a palavra frevo se faz presente, primeiro como título, através da marcha carnavalesca Frevo Pernambucano, de Luperce Miranda e Osvaldo Santiago, lançada na voz de Francisco Alves:

"Lá vem Catirina a samba

Na frente do Clube das Pá

Lá vem sá Chiquinha do Angu

De braço com o Zé Papangu

Viva o frevo, a pagodeira

Viva a farra e o amo!

Dei um pacote de confete

Pra minha flô,

Minha flô, minha flô.

A faca num cabra enterrei

Por que não me lembro, nem sei,

Só sei que no frevo cai

E dele aos pedaços saí"

Esta é uma marcha que documenta as características do que vem a ser a frevança pernambucana, nuances de suas origens e registra, ainda, a presença do folclore em seu contexto.

Como ritmo, no entanto, tem a sua primeira referência na discografia brasileira através do frevo Luzia no frevo, do compositor Antônio da Silva, o Antônio Sapateiro, na interpretação do conjunto musical Diabos do Céu, um dos mais populares da MPB à época, gravado a 20/12/1933 e lançado em janeiro de 1934.

Daí em diante, gerou-se uma enxurrada de frevos - primeiro de rua, depois canção e, finalmente marcha de bloco e frevo de bloco - marcando de forma significativa, a história da discografia brasileira."

O que vimos foram velhos frevos tocando pelas ruas do Recife. Novos frevos eletrônicos no REC-BEAT.

XXIII - ESTÁ ACABANDO...

O bloco BICHO MALUCO de Alceu Valença, compositor pernambucano, arrastou centenas de pessoas na Quarta-Feira de Cinzas pelas ruas da cidade alta, em Olinda.

Este ano, ao contrário dos outros, a concentração do bloco não foi na frente da residência de Alceu e sim no Bar Mourisco.

Um Urso simboliza o bloco.

O Governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos e o então Secretário de Cultura do Recife Roberto Peixe estavam no local e o "mico" da noite sobrou para a Prefeita de Olinda que levou uma vaia, talvez por ter proibido o "som mecânico" na folia de Olinda.

XXIV - NÚMEROS MALDITOS

O movimento foi grande nos hospitais de Pernambuco. No balanço geral das principais emergências do Estado, entre hospitais da capital e interior, foram registrados 12.265 atendimentos, 1.067 cirurgias e 52 óbitos. No ano passado, foram 13.433 atendimentos, 1.133 cirurgias e 57 óbitos.

Somente nas principais emergências do Recife, foram registrados 7.453 atendimentos das 19h da sexta-feira, dia 23, às 7h de ontem. Além disso, foram contabilizadas 795 cirurgias (entre grandes e pequenas) e um total de 39 óbitos. No mesmo período do ano passado foram registradas nas mesmas emergências 7.128 atendimentos, com 764 cirurgias e 42 óbitos.

Eis os números "oficiais" divulgados pela Secretaria de Defesa Social (SDS) no período carnavalesco, entre as 18h de sexta-feira (23) e às 8h de ontem:

Homicídios (Registro Policial Civil)…………………………………………………40*

Homicídios (Registro do IML)……………………………………………………… 56*

Furto…………………………………………………………………………………..392

Roubo…………………………………………………………………………………185

Lesões corporais…………………………………………………………………….166

Pessoas detidas……………………………………………………………………..286

Prisão em flagrante pela Polícia Civil………………………………………………29

Armas de fogo apreendidas…………………………………………………………62

Armas brancas apreendidas……………………………………………………….139

XXV - VOCÊS QUEREM BACALHAU?

         Quarta-feira de cinzas: redimir-se, ajoelhar-se vai começar a quaresma.

         Esperem: resta além do maluco bloco do Alceu, uma turma que às 10:30h da manhã desceu a ladeira da Sé com 45 músicos na Orquestra para agitar Olinda, como faz desde 1962: é o bloco "Bacalhau do Batata".

Os foliões deliciaram-se com o famoso munguzá, antes de cair na farra.

O garçon Isaías Ferreira da Silva (Falecido em 1993) fundou o "Bacalhau na Vara", para brincar na 4ª feira de Cinzas, já que trabalhava no carnaval, "Batata" era seu apelido (dizem que jogou uma partida de futebol com uma batata na mão).

XXVI - TUDO BEM, QUANDO BEM ACABA.

Toneladas de lixo, bandeiras despregadas, banho de sabão e muita vassoura -nas ruas de Recife e Olinda.

Os garis fazem a cidade retomar seu caminho. Trabalhadores anônimos, como muitos foliões, desmontam a fantasia da metrópole que guarda na memória encantos e desencantos.

Um arrepio percorre os braços deste autor no crepúsculo da quinta-feira aos escrever estas últimas palavras:

Evoé!

página anterior



©2004 Moisés Neto. Todos os direitos reservados.